sábado, abril 21, 2007

Os pontos nos "ii"


Uma direita que eu possa respeitar, por favor!

Como já escrevi noutra altura, foi educada num colégio católico. Desse facto nasceu em mim um certo respeito por (alguma) direita portuguesa. Sempre discordei frontalmente das suas ideias e projectos mas, talvez por ter conhecido pessoalmente algumas das personalidades ligadas a esse lado do espectro da vidapolítica portuguesa, através da respectiva prole (visto que muitos deles eram e são meus amigos), acabei por compreender que ninguém é totalmente mau e que há políticos de direita com alguma nobreza de carácter, pesem embora as suas ideias. É que eu tenho este defeito de ter uma tendência irresistível para ver o mundo de forma maniqueísta: bons de um lado e maus do outro. Branco e preto. Nós contra eles, no fundo. Mas conviver diariamente, durante doze anos, com pessoas que o meu instinto classificava como os “maus da fita” atenuou um pouco esta característica.

Uma das pessoas que tirei do elenco dos “maus” foi Ribeiro e Castro. Não me lembro de alguma vez ter concordado com uma única palavra que tenha saído da sua boca, mas sempre lhe reconheci a tal nobreza de carácter. Rege-se por princípios que no essencial rejeito mas, pelo menos, rege-se por princípios. A provar a ideia que dele tinha, ouvi-o dizer no debate com Paulo Portas na RTP, “Quero fazer do CDS um partido doutrinário”, leia-se um partido alicerçado em princípios e não no eleitoralismo portista. Outra pessoa da direita que respeito: Maria José Nogueira Pinto. O que é que ambos têm em comum? Foram ou estão em vias de ser afastados da cena político-partidária. Pelo que de pior a direita portuguesa produziu, acrescente-se en passant.

Em vez deles ou de uma direita que admiro intelectualmente (Pacheco Pereira, por exemplo), que direita está nas luzes da ribalta? Um Portas regressado das brumas do esquecimento, qual D. Sebastião; um Marques Mendes que insiste no enxovalho, nas acusações pessoais e mesquinhas ao Primeiro-Ministro, isto à falta de ideias para liderar uma oposição construtiva; um Professor que dita uma espécie de "verdade de Estado" ou a opinião definitiva acerca de todo e qualquer assunto aos domingos; um PNR com cartazes xenófobos no Marquês…

A coisa mais bonita da democracia é o debate, a oposição, a disputa saudável. Mas isso só é possível se a direita quiser debater. E se houver nela pessoas com um mínimo de credibilidade e decência. Porque não há nada pior do que não termos respeito pelo nosso adversário – isso pode ser sinal de uma de duas coisas: ou de soberba da nossa parte ou de efectiva inexistência de um adversário leal, com quem valha realmente a pena discutir pontos de vista e que não se limite a tentar deitar poeira aos olhos dos portugueses. Pelo menos desta vez, gostaria sinceramente que estivessemos perante a primeira situação e que o problema estivesse em mim, mas receio bem que a explicação para este meu desalento seja mais a segunda hipótese… Mude-se o estado de coisas na cena política à direita, por favor! A bem da democracia.

“Quem foi o arquitecto que fez este café,
Tão longe da Natureza
E tantos homens de pé?

Criado, põe esta gente na rua
E abre um buraco no tecto
Que eu quero ver a lua! (…)”

José Gomes Ferreira

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