domingo, novembro 12, 2006

Ainda Mexe

Quando se esperava que o congresso do PS serviria para pouco mais do que uma aclamação desmedida ao seu secretário-geral, recentemente eleito, a dita "ala esquerda" do do partido entrou com afirmações e tomadas de posição que devem orgulhar os valores de esquerda e do debate social.
Num primeiro plano, Helena Roseta. Conhecida apoiante de Manuel Alegre, facto tudo menos recente, reagindo ao discurso de Sócrates, disse que este era marcadamente ideológico, e que teria estado bem. Todavia, a sua intervenção terá sido chave. Citando, "tem que se respeitar a rua", "não voltem a escolher candidatos sem ouvir os militantes". São duas ideias a reter. Primeiro, porque são de uma veracidade assustadora, segundo, porque pode estar aqui o principal problema do governo em funções: a surdez. Não se ouviu o Primeiro-Ministro a reagir à greve, quem falou foram outros, nomeadamente, o ministro das finanças, Teixeira dos Santos. De um governo socialista quer-se socialismo, querem-se políticas viradas para a sociedade, políticas de igualdade e de uma igual distribuição da riqueza. Não é que o executivo não o queria fazer, questão é que dos nossos queremos sempre mais e melhor, e afirmações como as da arquitecta mostraram que no PS ainda se fala à esquerda, pena não ser quem deveria fazê-lo mais frequentemente.
Noutro plano, mas no mesmo cumprimento de onda, Manuel Alegre. A postura é conhecida, ao deputado, ninguém o cala. Disse que não foi fazer, nem um discurso de auto-satisfacção, nem quis aceitar o lugar que lhe propuseram. Como cadaum é como cada qual e faz o que bem entender, o poeta só peca num aspecto: não se renova. Todo ele é contestação, sem nada em troca, todo ele é contra o governo, contra quem está à frente do partido, lançou-se, inclusivamente numa batalha eleitoral que puderá ter custado a presidência da república ao seu partido, no entanto, foi o PS que lhe deu uma carreira e uma notoriedade de que disfruta hodiernamente. Naturalmente, Alegre pode ser activo valioso, só que não o é, porque ninguém leva a sério o contra por ser contra.
O congresso segue, mas o meu objectivo era mostrar que, apesar da vitória esmagadora do seu secretário-geral, o PS ainda respira alguma ideologia de esquerda, ainda se pauta por valores que me levaram a votar nele. Não que duvidasse disso, só que há alturas em que a certeza podia ser maior.