Os pontos nos "ii"
Hoje apetece-me ser polémica e falar de prostituição. Aquilo que vou escrever é tudo menos consensual mas, tudo visto, parece-me ser a melhor solução, subtraídos a hipocrisia e o falso moralismo.
Falo de legalização da prostituição. E muitos me perguntam como posso eu ser simultaneamente feminista, como assumidamente sou, e defender a legalização da prostituição, quando exercida livre e conscientemente por adultos. A resposta é simples: porque me parece ser a única forma viável de proteger a integridade física e psíquica destas mulheres (e homens também, convenha-se), de evitar a sua exploração e de as trazer de volta a uma comunidade que as estigamatiza e exclui.
Com a legalização da prostituição nestes precisos termos, as mulheres passam a estar abrangidas pelo sistema de Segurança Social, a beneficiar, entre outras, de assistência na doença e, sobretudo, a gozar de efectiva protecção contra a exploração da sua dignidade e autodeterminação sexual pelo crime organizado que o actual enquadramento legal, ao invés de combater, promove. Uma mulher que exerça uma profissão legítima e legal poderá recorrer às autoridades para denunciar abusos e isso parece-me essencial.
Argumentarão certamente que actualmente a prostituição já não se encontra criminalizada. Decerto. Contudo, o facto de permanecer uma actividade ilícita, ainda que não se trate de ilícito penal, não me parece adequada à prossecução daquele que deve ser o fim do Estado nesta matéria: dar a estas mulheres outras oportunidades, integrá-las, protegê-las.
"Primeiro estranha-se, depois entranha-se". Já fui radicalmete contra esta solução mas longas conversas com amigos holandeses fizeram-me mudar de ideias e ver nesta solução um passo necessário, face aos impressionantes resultados obtidos neste país no sentido de uma quase total erradicação do tráfico de mulheres. E isto é aquele que me parece o ponto essencial, bem para lá de qualquer moral social, mesmo que dominante.
A longos anos de concretização em Portugal, decerto, mas ainda assim, estou convencida, uma reforma futura.
Etiquetas: Os pontos nos "ii"
4 Comments:
Bom artigo, Inês...
Deixa-me só dizer que considero que o "feminismo" não é a mesma coisa do que "anti-machismo". Quanto ao primeiro é tão errado quanto o machismo em si.
Relativamente ao tema, o NES-FDL já elaborou um cartaz mensal a favor da regulamentação da prostituição, pela sua importância.
Além de todos os pontos positivos que referiste expressamente, é necessário enaltecer a importância da luta pela saúde destas mulheres (e homens, claro).
Regulamentar significa, e deve significar, tirar as mulheres de uma tenda de campismo no meio de algumas árvores para as levar para casas (ou bares, residências, discotecas, etc) com condições de higiene e segurança para que esta profissão (porque a é), seja exercida nas melhores condições possíveis.
Deixo também um convite a quem seja contra a regulamentação: Venham dar um passeio comigo até às estreitas ruas do Cais de Sodré às 3h da manhã. Ou às 9h. Ou às 16h da tarde....
Não deixa de ser engraçado observar que a única maneira de se combater o lenocínio seja para os senhores a legalização da actividade que lhe está subjacente...
Caro Betâmio de Almeida,
Acredito que o incentivo à prostituição é proibido, e deve ser combatido, pelo facto de conduzir àquela prostituição a que nos referimos e que pretendemos irradiar.
Com uma forte regulamentação será possível dar às mulheres uma efectiva possibilidade de escolha.
Mais, é possível que os abusos e pressões (psicológicos, físicos, sexuais) que aquelas sofrem sejam denunciados, combatidos e investigados por parte das autoridades.
Isso hoje em dia não acontece. Não pode acontecer quando se vive e trabalha na escuridão. Não na escuridão da noite mas na obscuridade da vida. E certamente sabe-lo tão bem quanto eu.
Cumprimentos
Inês, concordando no essencial com as tuas ideias gostaria, somente de acrescentar mais uma: A promoção da equidade e justiça fiscal pela garantia de que tais presstadores de serviços pagam os devidos imposto**
Enviar um comentário
<< Home