sexta-feira, outubro 05, 2007

Dia da República


5 de Outubro de 1910.

Não é um feriado qualquer.

Não se limitou a ser uma data de mudança de um regime monárquico para um regime republicano em Portugal. Essa mudança implicou a ruptura total de pensamento e da sua aplicação prática em áreas muito distintas e importantes como a educação, a saúde, o trabalho, a religião. Mas, mais que isso, em termos ideológicos existe uma ruptura em Portugal (tardia em relação à Europa): nasce uma visão moderna, social e humanista da sociedade. Desta revolução ideológica acabam por surgir forças politicas progressistas ligadas intimamente ao socialismo, como o Partido Socialista Português de Alfredo Franco e Ramada Curto nas décadas de 20 e 30, como a Acção Democrato-Social de António Sérgio e Jaime Cortesão da década de 50, como a Resistência Republicana de Mário Soares e Salgado Zenha igualmente da década de 50, como a Acção Socialista Portuguesa de Soares, Ramos da Costa e Tito de Morais da década de 60, e como o Partido Socialista de Soares, Jaime Gama, António Macedo, Arons de Carvalho, António Arnaut, Gustavo Soromenho e muitos outros da década de 70.

Este progressivo caminho que foi trilhado desde o aprecimento e diápora dos ideais republicanos em Portugal, desempenhou um papel essencial na formação politica de muitos dos que fundaram o actual Partido Socialista e continua a ser para nós, jovens, um exemplo de luta pelo progresso, pela liberdade, inclusão, justiça, fraternidade. Um caminho que faz parte da nossa identidade histórica enquanto jovens socialistas que não podemos nem poderemos querer renegar.



Viva a República,

Viva Portugal!

8 Comments:

à s 6 de outubro de 2007 às 02:42, Anonymous Anónimo escreveu...

Dr. Pedro Silveira é meu dever lembrar-lhe que de boas intenções está o inferno cheio. Não sou monárquico mas também não sou republicano. Sou a favor daquilo que for melhor para o meu país e bem vistos os factos não sei se com a revolução a mudança não foi para pior... isto para não falar dos governantes que a sucederam...
Prefiro valorizar o 25 de Abril esse sim o feriado dos feriados!Para impores esse teu socratismo não precisas de estar numa republica... O Blair e o Zapatero pelo menos não precisaram.

 
à s 6 de outubro de 2007 às 10:24, Blogger PedroSilveira escreveu...

Caro Ivan,

não discordo da importância do 25 de Abril e do que representou no desenvolvimento recente do nosso país. No entanto temo que o desvalor associado à implantação da República em Portugal derive tanto da falta de consciência histórica do momento (inclusive pelo decurso de quase 100 anos) e da ignorância da maior parte dos portugueses em relação aos ideias republicanos que com ela surgiram. Muitos desses ideiais exactamente representados pela Revoluçãod e Abril: liberdade, igualdade, fraternidade... democracia.

E não pretendo impor nada a ninguém. Só os pretensiosos acham que com a sua opinião impõem algo a alguém.

Quanto às referência às monarquias europeias acho profundamente errado querer comparar-se a República portuguesa às monarquias europeias. Porque não comprar a REpública portuguesa à monarquia portuguesa?

 
à s 6 de outubro de 2007 às 17:17, Anonymous Anónimo escreveu...

Dr. Pedro Silveira a constituição de 1911 é a cópia da de 1822 tirando-se o rei e pondo-se uma especie de presidente sem poderes e eleito por uma das camaras (ya ele não era eleito por sufrágio directo e universal). As Monarquias Europeias já foram iguais á monarquia portuguesa, apenas transformaram-se através de revisões constitucionais. As minhas dúvidas sobre a necessidade da primeira republica prendem-se com o facto de apenas ter trazido instabilidade. Recordo-te ainda que um dos motivos para D. Carlos ter sido assassinado foi um banquete que ele deu nesse ano para a Coroa inglesa. Só que esse banquete foi importante para eles nos perdoarem umas dividas (ya o rei nessa altura tinha muito poder diplomático lá fora, coisa que nenhum presidente da 1ª republica conseguiu).
Com isto queria apenas lembrar-te que o importante é mesmo a democracia, para mim é indiferente se é rei ou presidente, o importante é que seja mesmo bom.

 
à s 8 de outubro de 2007 às 12:28, Blogger João Gomes escreveu...

Pedro,

Realmente seria interessante compararmos a república portuguesa com a monarquia portuguesa e constatarmos que a primeira em menos de 100 anos de historia teve 16 de Anarquia e 48 de ditadura fascista, isto após o derrube de um sistema monárquico constitucional feito através de um atentado bárbaro à família real, que culminou na morte do Rei D. Carlos, homem culto das letras e das artes, que tem agora uma colecção de aguarelas feitas por si em exposição no Estoril.

Podes achar que a república nos abriu muita coisa, o que é verdade, mas também não te esqueças que a mesma nos abriu a porta para a ditadura militar, posteriormente para a ditadura fascista e só depois para a democracia, que nos havia sido roubada juntamente com a monarquia. O 5 de Outubro foi o regredir da pátria num dos valores que deveria ser dos mais caros aos socialistas: a Liberdade.

Por último acho que devíamos de uma vez por todas acabar com a hipócrisia de afirmar que o 5 de Outubro foi a revolução da liberdade, igualdade e fraternidade, até por que esses ideais vêm da Revolução Francesa que teve a sua influência em Portugal logo na revolução líberal de 1820 e que estão espelhados no nosso primeiro texto constitucional.

Um abraço

 
à s 8 de outubro de 2007 às 15:17, Blogger PedroSilveira escreveu...

Caros Ivan e João,

Ambos baseiam a vossa argumentação na prática posterior à implantação da República. Nunca me referi a ele no meu post. A situação politica após 1910 foi um descalabro autêntico (apesar de não concordar que foi a implantaçãod a república que abriu as portas à ditadura militar, como afirma o João). Disso não tenho dúvidas algumas.

Tal como não tenho dúvidas que em termos ideológicos, de puro pensamento politico, foi a República que contribuiu para a formação de tendências progressistas que desembocaram em associações que combateram a ditadura e lutaram pelos valores republicanos (sim, valores republicanos: bastaria, João, olhares para as Constituições ditas liberais e compará-las com a Constituição de 1910 para perceberes os valores por trás de todas as áreas que referi no meu post - educação, religião, saúde, etc).

Ivan,

eu não quero apenas que o Chefe de Estado "seja bom", quero que Portugal tenha um governo e um Chefe de Estado eleito livre e democraticamente (o que não acontecia) e um regime que se baseie na meritocracia e não numa qualquer divinização dinástica!
Quando falas das relações com a coroa inglesa não fazes mais que demagogia: esquecendo propositadamente o ambiente de rivalidade existente na sociedade portuguesa com o Reino Unido desde o caso do mapa cor-de-rosa e insinuando que foi isso um dos grandes motivos, o que para além de ser uma falácia histórica, me parece profundamente ingénuo.

Um abraço a ambos

 
à s 8 de outubro de 2007 às 17:07, Anonymous Anónimo escreveu...

Eu ja li o ultimato inglês e pelo que eu entendi... ali apenas se diz para Portugal desistir da ideia do mapa cor-de-rosa senao seriam retiradas todas as representaçoes diplomáticas... TU Pedro Silveira, Presidente da Republica ou Primeiro-ministro democraticamente eleito fazias o quê? É claro que isso na sociedade não caiu bem, mas foi o mais sensato. Se a nossa sociedade não queria mais nada com os ingleses podia começar por pagar a conta e depois mantinham-se nos territórios do mapa cor-de-rosa a ver se não vinha chumbo.
A Republica existe desde Roma ou se calhar até apareceu antes numa qualquer civilizaçao... Agora aquilo que tu pensas ser ideais republicanos são uma reprodução da Constituição de 1822 em que o Presidente da Republica não é eleito por sufrágio directo e universal, mas sim pelo parlamento. Isto para não falar do sufrágio censitário para as camaras dos deputados e do direito de voto das mulheres que sempre me deu vontade de chorar.

 
à s 8 de outubro de 2007 às 23:45, Blogger João Gomes escreveu...

Pedro,

O republicanismo abriu portas ideológicas ao combate ao problema que o mesmo criou, o fascismo. A sua ideologia teve um papel importante em vários movimentos que tu referes, inclusivé o PS, tal como têm outro tipo de ideologias, a começar pela doutrina social da igreja, por exemplo.

Quando dizes que queres um chefe de estado eleito pelo povo posso até perceber, mas quando o fizeres tenta não demonizar a monarquia e pensa que a maioria dos países desenvolvidos adoptam esse modelo de estado e nem por isso deixam de viver num estado democrático e meritocrático.

Já agora ninguém me explica a razão de ninguém comemorar o verdadeiro 5 de Outubro? O de 1143, muito mais importante do que uma mudança de regime.

Um abraço

 
à s 10 de outubro de 2007 às 12:55, Blogger PedroSilveira escreveu...

João, a resposta à tua pergunta encerra exactamente a visão de um monárquico em oposição à de um republicano.

 

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