Sentenças
Lembro-me nitidamente da primeira conversa que tive com o Pedro Silveira sobre política. No MSN, escrevi-lhe partilhar os valores de uma esquerda moderna mas duvidar do tipo de política que se pratica(va) no país.
Há escassos dias atrás, numas eleições de Concelhia da JS, nas quais marquei presença, uma senhora de meia idade abordou as pessoas que estavam na mesa de voto, possivelmente atraída pela bandeira da Juventude Socialista lá colocada. Simpaticamente, destacou o facto de haver, poucos metros além, uma área de terreno com lixo, ervas e plantas secas, alertando para o risco dos fogos que infelizmente se avizinham.
- "Eu cá não quero saber de mais nada! Quem vier aqui tratar disto, tem o meu voto. É sinal que se preocupa!" - Disse a simpática senhora.
Esta senhora que fala sobre as suas preocupações veio tocar exactamente na minha opinião sobre a política.
A política é mais do que discutir Kant, Nietchze, Platão, Locke, Rousseau, Aristóteles, Marx, ou outros. É mais do que apupar ou aplaudir no parlamento. Está muito longe de lançar para o ar palavras que ninguém entende ou promessas que poucos cumprem.
Entendo a política de forma diferente. A política não é uma actividade de escritório, nem de secretária. A política é uma actividade de rua. Os políticos deviam andar pela rua como o cidadão comum, para se inteirarem das suas reais preocupações. A política é uma actividade para o mundo. E se o mundo é redondo, não pode ser visto de dentro de quatro paredes.
A senhora que fala não se preocupa se o novo aeroporto será construído na Ota ou na Horta, mas gostaria que limpassem o entulho perigoso de uma área residencial.
A senhora que fala não quer saber da ARtv. Desliga a televisão e escreve uma carta à Câmara Municipal solicitando que, de uma vez por todas, se tapem os buracos que existem nas principais ruas da sua localidade. E que, se não for pedir muito, reponham algumas calçadas levantadas nos passeios onde as crianças caminham.
A senhora que fala desiteressa-se pelos nomes dos partidos. Mas promete, a título de Honra, o seu voto naqueles que inventarem uma solução para os animais vadios que diariamente são atropelados, apedrejados, maltratados e que acabam por morrer mesmo em frente à janela da sua sala.
A senhora que fala vê tudo isto porque sai de casa para ir à mercadoria. Apanha o autocarro para se deslocar. Retorna. Paga a conta da electricidade. Vai buscar os filhos à escola. Compra o jantar. Nestes e noutros actos, a senhora que fala vê muito mais do que aquilo que fala e pensa muito mais que aquilo que vê, apenas porque a sua vida é na rua. Não dorme lá, mas vive na rua.
A senhora que fala pode ser um senhor. Pode ser muda. Pode ser criança. Pode ser idoso.
A senhora que fala pode ser portuguesa ou estrangeira. Alta ou magra.
A senhora que fala pode ser imensas coisas, mas fala.
Hoje, tal como naquela conversa com o Silveira, também eu me sinto uma senhora que fala.
Há escassos dias atrás, numas eleições de Concelhia da JS, nas quais marquei presença, uma senhora de meia idade abordou as pessoas que estavam na mesa de voto, possivelmente atraída pela bandeira da Juventude Socialista lá colocada. Simpaticamente, destacou o facto de haver, poucos metros além, uma área de terreno com lixo, ervas e plantas secas, alertando para o risco dos fogos que infelizmente se avizinham.
- "Eu cá não quero saber de mais nada! Quem vier aqui tratar disto, tem o meu voto. É sinal que se preocupa!" - Disse a simpática senhora.
Esta senhora que fala sobre as suas preocupações veio tocar exactamente na minha opinião sobre a política.
A política é mais do que discutir Kant, Nietchze, Platão, Locke, Rousseau, Aristóteles, Marx, ou outros. É mais do que apupar ou aplaudir no parlamento. Está muito longe de lançar para o ar palavras que ninguém entende ou promessas que poucos cumprem.
Entendo a política de forma diferente. A política não é uma actividade de escritório, nem de secretária. A política é uma actividade de rua. Os políticos deviam andar pela rua como o cidadão comum, para se inteirarem das suas reais preocupações. A política é uma actividade para o mundo. E se o mundo é redondo, não pode ser visto de dentro de quatro paredes.
A senhora que fala não se preocupa se o novo aeroporto será construído na Ota ou na Horta, mas gostaria que limpassem o entulho perigoso de uma área residencial.
A senhora que fala não quer saber da ARtv. Desliga a televisão e escreve uma carta à Câmara Municipal solicitando que, de uma vez por todas, se tapem os buracos que existem nas principais ruas da sua localidade. E que, se não for pedir muito, reponham algumas calçadas levantadas nos passeios onde as crianças caminham.
A senhora que fala desiteressa-se pelos nomes dos partidos. Mas promete, a título de Honra, o seu voto naqueles que inventarem uma solução para os animais vadios que diariamente são atropelados, apedrejados, maltratados e que acabam por morrer mesmo em frente à janela da sua sala.
A senhora que fala vê tudo isto porque sai de casa para ir à mercadoria. Apanha o autocarro para se deslocar. Retorna. Paga a conta da electricidade. Vai buscar os filhos à escola. Compra o jantar. Nestes e noutros actos, a senhora que fala vê muito mais do que aquilo que fala e pensa muito mais que aquilo que vê, apenas porque a sua vida é na rua. Não dorme lá, mas vive na rua.
A senhora que fala pode ser um senhor. Pode ser muda. Pode ser criança. Pode ser idoso.
A senhora que fala pode ser portuguesa ou estrangeira. Alta ou magra.
A senhora que fala pode ser imensas coisas, mas fala.
Hoje, tal como naquela conversa com o Silveira, também eu me sinto uma senhora que fala.
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