segunda-feira, outubro 22, 2007

Sentenças




O CDS-PP defendeu ontem a ideia de que deve haver uma responsabilização dos pais dos alunos que faltam muito às aulas.

À primeira vista a ideia não merece qualquer constestação. Aliás, é normal que quando os filhos faltem às aulas os pais sejam os responsáveis e respondam pelos actos daqueles.

A medida dos populares desvia-se do tradicional pelo facto de essa responsabilização derivar de um contrato assinado entre pais e escolas, em que aqueles ficam obrigados a que os filhos não faltem às aulas, sob pena de incorrerem em sanções pecuniárias.

Quase me faltam as palavras, de tão estúpida que soa a ideia. A desculpa de que é uma medida praticada noutros países não me convence. É claro que qualquer ideia, qualquer medida, qualquer proposta já foi alguma vez tentada ou praticada em algum lugar, em determinado espaço de tempo. E isso é fundamento para a praticarmos nós?

A escola e os pais celebram contrato. Os pais ficam obrigados a que os filhos não faltem. Os filhos faltam... E os pais pagam.

Não consigo conceber a utilidade da proposta por vários motivos.
Em primeiro lugar, vai levar a que os filhos sejam obrigados a ir às aulas não por motivações didáticas, disciplinares ou comportamentais, mas apenas porque os pais não querem pagar se aqueles faltarem.
Tantas preocupações com os meninos da escola e, afinal, era isso que faltava ensinarmos às crianças de Portugal: "Joãozinho, não me importo que puxes os cabelos à tua irmã ou que atires aviõezinhos nas aulas, o que interessa é que estejas lá dentro!".


A própria ideia de responsabilização já é praticada. Quando os filhos se portam de forma desviante (incluindo o faltar às aulas), os pais são chamados à escola, onde ficam a par desses comportamentos. Hoje em dia, sempre que um aluno falta é enviado para a morada de residência uma carta a indicar que o aluno faltou.

E aí os pais, por serem pais, saberão como proceder nessas circunstâncias. Acredito que não é necessário que venha a senhora do Conselho Directivo com um papel debaixo do braço e uma mão estendida indicar como se deve educar os filhos dos outros.


Existe ainda uma outra vertente, que é a questão de haver filhos que escapam da tutela dos pais. Os pais esforçam-se, educam-nos, criam-lhes condições de aprendizagem, mas os filhos não querem saber dos estudos.

Os pais deixam-nos à porta da escola e vão buscá-los quando saiem.
Mas no final do mês, quando receberem a factura para pagar, vão ter de vender o automóvel porque o filho é um baldas.

E aí é que são elas. Porque, a partir desse momento, o Joãozinho passa a ir a pé para a escola.

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2 Comments:

à s 23 de outubro de 2007 às 16:10, Blogger RICARDO PITA escreveu...

pior só o "dia do cão" que o PSD propôs no Parlamento

 
à s 26 de outubro de 2007 às 15:17, Blogger Guido S. Teles escreveu...

Apesar da proposta absolutamente inacreditável do PP... sou obrigado a dar razão às críticas que têm sido feitas a esta proposta. A assiduidade ao longo da formação básica e secundária de um estudante tem, além de muitas outras, razões de foro sócio-educativo; pretende-se criar rotinas de trabalho e promover o convívio social. Com uma medida como esta os estudantes deixam, simplesmente, de estar obrigados a frequentar as aulas... Vai contra todos os objectivos de uma educação social... Para além do mais, com sinceridade, vem no seguimento de uma série de políticas de facilitismo que não abonam, na minha modesta opinião, a política educativa.

 

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